Em março, produzi uma série especial sobre fake news para o jornal Notícias do Dia, de Florianópolis. As reportagens trataram de diferentes aspectos relacionados ao assunto, desde a origem e o compartilhamento até as formas de combate (pela via legal e pela mudança no comportamento), passando também pelo papel do jornalismo e do jornalista como antídoto contra a propagação das notícias falsas.
Uma das fontes que participam da série é a professora e consultora especializada em mídias sociais, Luciana Manfroi, que tem sempre ótimas observações a respeito do mundo digital em seu Facebook, blog e agora também na coluna semanal que passou a assinar no OCP News de Florianópolis. Recomendo (dica de leitura).
Reproduzo abaixo, as respostas esclarecedoras que a Luciana deu para perguntas que contribuíram bastante para o “debate” sobre o assunto que tive a satisfação de mediar com série (grato ao Luís Meneghim, diretor de conteúdo do Grupo RIC pelo convite). Confira.
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O que motiva a criação e propagação de uma fake news?
Luciana Manfroi – Acredito que a motivação parte de duas possibilidades. Uma, a motivação de empresas que são geradoras de conteúdos falsos, que geram receita com este tipo de notícia. São especializadas em propagar notícias falsas e recebem capital através de cliques de usuários que entram em seus sites/blogs.
A outra motivação parte das próprias pessoas, que não checam as fontes e acabam compartilhando as notícias, muitas vezes porque estes tipos de notícias são fabricadas com o propósito de sensacionalismo, o que acaba por causar um “espanto, comoção” e outras reações emocionais nos usuários.
De que forma as redes sociais contribuíram para que as fake news ganhassem tamanha proporção? Por que o Facebook se tornou a fonte principal das fake news?
Luciana Manfroi – As redes sociais são os locais de divulgação das notícias. Os sites/blogs são os locais de publicação. Quando as fake news chegam às redes sociais, já passaram pela publicação nos sites/blogs.
A intenção é essa: gerar conteúdo nos sites/blogs para disseminá-los nas redes sociais. Como há fábricas de criação de notícias falsas espalhadas pelo mundo, há uma cadeia a ser seguida até o objetivo final, que é o de que repercuta nas redes sociais, causando a viralização.
O Facebook é a rede social (ainda) em que se encontram muitos usuários, de todas as idades. Ele é o grande circo que tem diversas atrações. Então, nesta Torre de Babel, que é o Facebook, há de tudo. E onde cabe tudo, entram os boatos também. Além disso, o Facebook tem um público mais idoso, que muitas vezes não produz conteúdo, mas compartilha muito, e sem checar as fontes.
Mas, o WhatsApp, que não é uma rede social, mas um mensageiro instantâneo, ainda é o pior local para controle: uma vez repassada a notícia lá, não há mais controle do remetente. Principalmente, porque quem faz campanha profissional de fake news via WhatsApp não envia a mensagem um-a-um, mas contrata empresas e dispara a mensagem em massa.
Como melhorar o controle do que é publicado nos veículos de comunicação? É possível implantar mecanismos que impeçam a publicação de notícias falsas?
Luciana Manfroi – É possível, mas muito difícil desmantelar a cadeia de agentes que envolvem as fake news porque são muitos os envolvidos, cada qual com suas ações. Por exemplo, existe o agente que paga a conta, um agente financeiro que indica ao criador, que adquire um aparelho (celular, computador, modem, etc) no mercado paralelo, que não se consegue rastrear o IP, abre locais para publicação de conteúdo (locais ponto com, onde se consegue não haver o registro de quem se inscreve na conta, como, por exemplo, o WordPress).
Em seguida, entra em ação o produtor de conteúdo, que publica as notícias falsas no blog e, por fim, o disseminador, que impulsiona patrocinados nas redes sociais, com cartões pré-pagos, em que não se pode localizar o proprietário, até ser compartilhado pelas pessoas da rede. Esta é a cadeia, a metodologia da fake news.
De que forma o comportamento dos usuários de redes sociais contribui para o crescimento das fake news? Por que tantos curtem, comentam e compartilham posts sem ao mesmo clicar para ler o conteúdo?
Luciana Manfroi – O comportamento dos usuários nas redes sociais ainda se assemelha ao de um playground: é uma festa, são todos a mídia, são todos entusiasmados com tanta informação. O meio para se resolver isso é desconfiar de fontes que não sejam seguras. Para isso, caso desconfie, o melhor é buscar no Google se a notícia está sendo comentada por fontes seguras. Lembre-se que mesmo o melhor amigo, aquele em que se confia, não está livre de cometer uma publicação de notícia falsa, pelo afã, pelo impulso. Desconfie e cheque.
Parte do material da série está no site do ND:
Um comentário sobre “Como funciona a produção de fake news e como o comportamento na rede social ajuda na propagação”