O jornalista Ricardo Gandour, que acaba de trocar o Estadão, onde ficou por dez anos como diretor de conteúdo, para assumir a direção executiva da rede CBN, está lançando o e-book Um novo ecossistema informativo: Como a fragmentação digital está moldando a forma pela qual produzidos e consumimos notícias. A publicação é do Knight Center for Journalism in the Americas e tem como base os estudos realizados por Gandour no período em que ele ficou na Universidade de Columbia, em Nova York, quando ouviu jornalistas e especialistas em mídia digital para traçar o panorama sobre o momento pelo qual passa o jornalismo.
Reproduzo a seguir o resumo executivo do e-book, distribuído gratuitamente pelo Knight Center.
Um novo ambiente jornalístico está sendo construído. Ele é caracterizado por consolidação e fragmentação, dois fenômenos conceitualmente opostos mas que avançam de forma simultânea.
As pessoas recebiam as notícias das redações profissionais, e as empresas jornalísticas se sustentavam com essa exclusividade. Com a Internet, a informação tornou-se abundante e em grande parte gratuita. Com as redes sociais, os conteúdos das redações são replicados em pedaços.
E todo mundo se tornou capaz de publicar e ter voz. Há agora mais informação, e isso é inegavelmente bom. Mas nas redes sociais, as notícias profissionais qualificadas se misturam com outras informações e opiniões não-checadas. Rumores e fofocas entram no fluxo. Chamamos isto de fragmentação digital.
As empresas jornalísticas estão enfrentando problemas. Muitas são forçadas a cortar custos, reduzindo sua capacidade de oferecer mais notícias, contexto e análises. Isso pode diminuir a qualidade do ambiente informativo como um todo.
Um efeito da fragmentação digital é a polarização. Opiniões e rumores não baseados em fatos aceleram o comportamento de tomar rapidamente um atalho para “like” ou “dislike”. O debate público perde nuances.
Outro efeito é sobre a chamada alfabetização midiática. As pessoas podem estar perdendo a habilidade de diferenciar informação de opinião, por exemplo.
Quando as empresas não conseguem arcar com seus custos, dizemos que estão perdendo escala. Uma solução é a fusão. Outra são as aquisições. Ambos movimentos levam a um contexto de empresas maiores, mas em menor número. Isto é consolidação.
A consolidação reforça conglomerados, que administram portfolios com publicações de massa e mais rentáveis junto a outras de maior prestígio, mas de lucro modesto.
Outro efeito da fragmentação é o surgimento de pequenos veículos dedicados a temas específicos, muitas vezes sob um novo modelo, o jornalismo sem fins lucrativos, financiados por doações.
Eles complementam o ambiente noticioso e ajudam a mediar o debate público. Eles são vistos às vezes, corretamente ou não, como “advocacy” ou “lobby”. Transparência é essencial.
Novos empreendimentos de mídia podem ser alvos futuros para mais consolidação. Empresas de médio porte terão pouco ou nenhum espaço.
Os processos de trabalho estão passando por grandes transformações. A separação entre jornalismo e entretenimento, jornalismo e publicidade, jornalismo e “advocacy”, e informação e opinião, está, em muitos casos, pouco clara e esmaecida.
Em algumas circunstâncias, o jornalismo está sendo aplicado como um simples formato. Jornalismo é um método. As práticas de redação devem ser preservadas. Elas podem determinar a qualidade do novo ecossistema que está sendo moldado.
Neste novo ambiente, as escolas de jornalismo devem, mais do que nunca, reforçar seu papel de prover profissionais e organizações com os fundamentos da profissão. Caso contrário, o jornalismo corre o risco de falhar como um dos pilares da liberdade de expressão e da democracia.
Faça o download grátis do e-book.
Versão animada
Antes do e-book, os estudos de Ricardo Gandour deram origem à animação The new information environment: digital fragmentation, divulgada em junho. Assista.