O que não falta na internet é site e blog criados exclusivamente com o objetivo de gerar lucro com anúncios tipo os do Google AdSense e de programas de afiliados. Não é uma prática nova, mas é também o que está na base financeira da maioria dos canais que produzem e compartilham fake news no Brasil e no mundo.
Como geralmente os anúncios são veiculados de modo automático, conforme configuração do proprietário ou da agência que compra parte do inventário de audiência, é sempre uma tarefa complicada barra esse tipo de ação. Mas é possível, como prova um movimento que atua para contatar anunciantes sobre a presença das marcas em sites e blogs de notícias falsas. E os resultados da ação já são vistos aqui no Brasil.
O assunto é tema de reportagem do El País:
Movimento expõe empresas do Brasil que financiam, via anúncios, sites de extrema direita e notícias falsas
Inspirada em modelo dos EUA, versão brasileira da conta Sleeping Giants alerta companhias sobre publicidade em páginas que ajudam a propagar a desinformação. Banco do Brasil, Dell, O Boticário, Submarino e Telecine retiram propaganda
E em pouco tempo de atuação no Brasil, o @slpng_giants_pt já pisou em calos e prestou um duplo serviço: abriu os olhos de um grande anunciante (no caso, o Brasil do Brasil) e mostrou a proximidade que os criadores de fake news têm com o governo federal.
Entende o caso.
O @slpng_giants_pt apontou para o BB que os anúncios do banco estavam sendo veiculados e, por tabela, gerando receita, para sites propagadores de notícias falsas.
Oii @BancodoBrasil, tudo bem? Realmente é bom ter a facilidade de usar um app em tempo de pandemia, mas não precisava anuncia-lo em um site conhecido por espalhar Fake News e que é contra o isolamento social. Pls considere bloquear!✊🏽#SleepingGiantsBrasil pic.twitter.com/YXvRFP8BBr
— Sleeping Giants Brasil (@slpng_giants_pt) May 19, 2020
O banco, assim como outras empresas já fizeram, retornou ao Sleeping Giants dizendo estar ciente e que iria tomar as providências. Escreveu o BB no Twitter:
Agradecemos o envio da informação, comunicamos que os anúncios de comunicação automática foram retirados e o referido site bloqueado. Repudiamos qualquer disseminação de FakeNews.
“Contornar a situação”
A turma que compactua com a proliferação de fake news não gostou da medida adotada pelo Banco do Brasil e foram fazer o quê? Foram se queixar ao chefe da Comunicação do governo federal, o Fabio Wajngarten.
Wajngarten respondeu:
“Estamos cientes da importância do jornalismo independente. Nem toda a comunicação do que é público depende de nós, mas já estamos contornando a situação. Agradecemos pelo retorno e pode contar com o governo na defesa da liberdade de expressão”.
Uma resposta que gerou alguns questionamentos, como apontou a colunista Mônica Bergamo, no Twitter:
“Como será que Fabio Wajngarten está ‘contornando a situação’? Está falando para o BB anunciar de novo no referido site já vetado pelo banco? Como se dará esse ‘contorno’?”
Flávio Wajngarten não respondeu a colunista da Folha e da BandNews FM, mas atacou o trabalho do Sleeping Giants, com argumentos questionáveis, distorcidos e que falam para o público de sempre, chamados de “jornais independentes”, mas que não passam de canais forjados na antiprática do jornalismo sério.
A conferir se o contorno será feito. Mas desde já, que fique o exemplo do @slpng_giants_pt: chega de financiar (às vezes até sem saber) quem produz e espalha fake news. Viu anúncios em sites? Denuncie! Mande e-mail e mensagens pelas redes sociais alertando sobre a exibição de anúncios em sites nada confiáveis.
Leia a reportagem do El País para conhecer mais sobre o movimento Sleeping Giants Brasil.
E por falar em fake news…
No fim de semana, circularam no Twitter posts mentirosos a respeito da Covid-19 e o uso da cloroquina. A mesma prática de sempre: a mesma mensagem replicada por inúmeros perfis (a maioria fakes e robôs) para gerar volume, enganar os menos avisados e, pior, ajudar na construção das narrativas que negam a ciência no combate ao novo coronavírus.
Compartilhei prints no meu Facebook e fiquei contente de ver que não estou sozinho na indignação diante deste tipo de prática. Só a minha postagem registrou até o momento (quarta, 20 de maio, 18h) 242 compartilhamentos. E para ajudar no combate à propagação desse tipo de lixo (não vou chamar de conteúdo…) acrescentei links dos serviços de checagem (Projeto Comprova, Aos Fatos e Boatos.org), além da carta dos profissionais da saúde contra a infodemia e a desinformação (leia aqui).
É difícil, mas não é impossível não estar alerta e alertar sobre as notícias falsas.