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WhatsApp: O estrago vai além das fake news

A charge do meu amigo Zé Dassilva, que está no Diário Catarinense de hoje, é precisa na referência à reportagem da Folha de S.Paulo sobre o uso de caixa 2 do candidato Bolsonaro para disparo de mensagens falsas pelo WhatsApp. Acredito que o (mau) uso do aplicativo de mensagem traz prejuízos enormes à democracia, mas provoca estragos também no meio digital, especialmente nos veículos regionais, de menor porte.

O Google e o Facebook ainda são oficialmente os grandes “inimigos” dos grandes grupos de comunicação (na Europa estão insistindo nessa disputa). Mas aqui no Brasil, o uso do WhatsApp, a meu ver, contaminou o público de tal maneira que “Recebi no Whats” virou senha para dispensar o acesso aos sites de veículos, que parecem perder drasticamente a relevância. E isso vai além da discussão sobre fake news.

É uma questão de uso de plataforma e de hábito de consumo de informação. São leitores que geralmente não leem (como os comentaristas de títulos no Facebook) e que se sentem bem informados a cada nova notificação que “pinga” no WhatsApp, mesmo sendo um meme ou uma imagem/screenshot, eventualmente acompanhada por estímulos do tipo “isso é importante”, “veja que absurdo” ou “todo mundo precisa saber disso”.

Nos Estados Unidos, conforme reportagem do Nieman Lab, publicada no Brasil pelo Poder 360, pesquisas estão mostrando que “o Facebook não está mais crescendo como uma plataforma de notícias”. E quem está ocupando essa posição? O WhatsApp, que os entrevistados associam como “melhor amigo, sociável, divertido, une as pessoas, simples, honesto, confiável, fiel, discreto, ágil, dinâmico, atual”.

O mau uso do WhatsApp chegou primeiro

Como já havia ocorrido com as redes sociais, os veículos perderam o bonde mais uma vez em relação ao WhatsApp. Onde era só mato, muito antes da explosão das fake news, o espaço acabou sendo ocupado por quem faz um mau uso do aplicativo. E o mau uso virou regra, deseducou o público e hoje temos esse cenário pouco animador – e sorte de quem não participa de grupos de família.

Ou seja, o potencial que o Whats poderia ter para ser usado pelos veículos pode estar indo para o lixo, se é que já não foi. Só usar para receber comentário de ouvintes, por exemplo, é muito pouco.

Em abril de 2016, escrevi no blog da agência VOCALI um texto que falava do uso do WhatsApp para a distribuição. Citei os meios usados, mas o destaque era o “ZapZap”:

Há uma outra ação, simples até, mas que muitos falham por esquecimento ou desconhecimento: usar o público como o distribuidor a partir do acesso ao conteúdo no blog. Mas isso já não ocorre na rede social, quando ele compartilha um post por lá?

Em tese sim. Mas lá ele compartilha apenas naquele canal. A ideia aqui é ampliar as possibilidades de escolha do visitante para que ele possa compartilhar o link na plataforma que desejar. E aqui entra uma possibilidade que alguns sites e blogs já se deram conta e que as empresas e seus blogs também podem adotar: o compartilhamento de links para usuários e/ou grupos de WhatsApp.

Inegável a importância que o WhatsApp conquistou, embalado também no aumento nas vendas e no uso de smartphones. O aplicativo já é o principal canal de interatividade de muitas empresas e tende a crescer em termos de funcionalidades muito em breve.

O texto completo está no blog da VOCALI.

Ainda veja o potencial e as possibilidades que escrevi dois anos atrás. Mas precisa sair do lugar, pensar fora da casinha, da plataforma para jogar o jogo que está posto.

O caminho talvez seja produzir com foco na distribuição via Whats. Um comentário patrocinado em áudio, por exemplo. O que um comentarista esportivo ou político faz na rádio, pode fazer enviando para listas de ouvintes no aplicativo. Vídeos também podem render boas ideias.

Ou os veículos, em especial os segmentados e hiperlocais, podem distribuir cards informativos e patrocinados. Questão de ir para o vestiário e repensar o esquema de jogo e entender melhor quem é e como age o público que deseja alcançar. Já pensou nisso?

P.S.: Por falar em WhatsApp, na versão para smartphone do Primeiro Digital aparece o botão para você compartilhar o link no aplicativo. É verdade esse bilete.

Alexandre Gonçalves

Jornalista, especializado em produção e gestão de conteúdo digital (portais, sites, blogs, e-books, redes sociais e e-mails) e na criação e coordenação de produtos digitais, atuando no Jornalismo Digital e no Marketing de Conteúdo.

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