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Cresce quantidade de meios com menor escala que começam a alcançar sustentabilidade, diz pesquisador

A nova edição da revista acadêmica Pauta Geral – Estudos em Jornalismo, editada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, traz uma longa entrevista com o jornalista, professor e pesquisador espanhol Rámon Salaverría, da Universidade de Navarra, e conhecido entre os alunos do Master em Jornalismo Digital do IICS, em São Paulo (ótimas aulas).

Na conversa com Ivan Bomfim (UEPG) e Karine Vieira (Uninter), Salaverría aborda tendências e desafios do ciberjornalismo, com destaque para a convergência de plataformas e, especialmente, a busca por modelos de negócio sustentáveis no meio digital.

Para conhecimento e reflexão, reproduzo a seguir a pergunta e a resposta que trata especificamente da questão dos modelos de negócio.

Boa leitura.

Pauta Geral – Um dos assuntos que o senhor anda pesquisando é a questão dos modelos de negócios do ciberjornalismo, como estes novos veículos podem se sustentar. Quais seriam, no momento, os novos meios jornalísticos que alcançaram êxito? Quais modelos se mostram mais sustentáveis?

Ramón Salaverría – Com certeza, a questão do negócio é o principal condicionante dos meios digitais nos últimos 20, 25 anos. Não foi um problema tecnológico, nem de liberdade de expressão ou de desenvolvimento profissional. A razão pela qual os meios digitais se desenvolveram até o ponto no qual se encontram atualmente é porque sua dimensão empresarial é a que é.

Tenho uma hipótese: se o negócio dos meios digitais tivesse se consolidado muito mais do que foi conseguido até aqui, a história do jornalismo nos últimos 20 anos teria sido completamente distinta, porque a transição por parte das empresas jornalísticas ao universo digital teria sido muito mais rápida e proativa, ao passo que foi enormemente defensiva, pelo contrário.

Então, quais são os vetores que eu observo como mais relevantes em relação ao modelo de negócios? Menciono dois: diversificação e mudança de escala.

Em relação ao primeiro, os meios digitais não conseguiam trasladar a estrutura de receita que existia nos meios anteriores – tradicionalmente, cerca de 60% da receita chegava por meio da publicidade e 40% era conseguido pelas vendas e assinaturas – pois, quando os veículos vão ao ambiente digital, isso se quebra.

Como não foi possível (até o momento) replicar essa estrutura, foi necessário investir em uma diversificação. Os meios digitais buscaram formas complementares à publicidade (porque esta, por sua parte, foi procurar outros terrenos, como as grandes redes sociais, grandes buscadores).

Assim, apostaram na publicidade, mas também procuraram fórmulas diversas. Em alguns casos, estas foram a venda e a assinatura – que no início não deram nada certo, mas isso, pouco a pouco, começou a mudar.

Estas modalidades de pagamento começaram a se popularizar, mas também foram sendo incorporadas outras modalidades de financiamento que não existiam anteriormente.

Por exemplo, organização de eventos ou, de forma similar, patrocínios: conteúdos patrocinados, patrocínios públicos e privados, fundações que aportam dinheiro para o sustento de meios nativos digitais – isso é bastante comum na América Latina, por exemplo. De modo que, agora, a quantidade de vias de financiamento dos meios digitais para conseguir se sustentar, manter sua rentabilidade, é muito mais diversa e rica do que tinham os meios não digitais.

A segunda transformação seria a mudança de escala. Podemos dizer, na realidade, uma redução de escala. Porque, anteriormente, os meios (imprensa, rádio, televisão) tinham uma escala industrial muito maior, assim como os custos. Então o retorno econômico necessário era muito maior também.

Esse tipo de estrutura só poderia ser sustentado com uma receita muito grande. Agora, estamos passando para modelos muito mais econômicos, nos quais com uma equipe humana muito mais reduzida e investimento bem menor (diria incomparavelmente menor) em infraestrutura, qualquer um pode lançar um periódico.

Evidentemente, com esses modelos pequenos, o retorno econômico também tende a ser pequeno. Mas é igualmente sustentável e rentável. Então, estamos nesse processo de transição onde os meios grandes já não conseguem manter os níveis de receita que alcançaram no passado, não estão conseguindo trasladar esses níveis ao universo digital e, diante disso, estão crescendo uma quantidade enorme de meios de pequena escala que, com uma grande diversificação, começam a alcançar, pelo menos, a sustentabilidade.

Acesse o site da Pauta Geral e faça o download gratuito da entrevista completa com o professor Ramón.

Acesse o site de Ramón Salaverría.

Foto: Fernando Mucci/Divulgação


Sobre a Pauta Geral – Estudos em Jornalismo

É uma publicação semestral do Programa de Pós-graduação em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), que tem como objetivo divulgar estudos e pesquisas em Jornalismo, seja como resultado de investigação concluída ou em andamento, buscando o fortalecimento do campo jornalístico também em nível de pós-graduação no Brasil. A revista recebe artigos, resenhas e entrevistas em fluxo contínuo. Saiba mais.

Alexandre Gonçalves

Jornalista, especializado em produção e gestão de conteúdo digital (portais, sites, blogs, e-books, redes sociais e e-mails) e na criação e coordenação de produtos digitais, atuando no Jornalismo Digital e no Marketing de Conteúdo.

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