Qual o papel das redes sociais nas campanhas eleitorais? Este é ponto de partida do artigo assinado pelo jornalista Gastão Cassel, que publico a seguir. Com algumas campanhas no currículo, Gastão, meu amigo e parceiro nas aventuras e desventuras do universo podcaster, questiona a energia que muitos candidatos e seus assessorias colocam nas redes, sem se darem conta de precisam, na verdade, furar a bolha e não ficar falando para quem já é seu potencial eleitor.
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O dilema das campanhas eleitorais e as redes sociais
por Gastão Cassel, jornalista
O Dilema das Redes não é apenas um documentário [da Netflix] que está “bombando” no momento. É um drama que estão vivenciando candidatos e planejadores de campanha no primeiro pleito em que o tradicional “corpo a corpo” está restrito aos ambientes digitais. A pergunta é: qual o papel das redes sociais nas campanhas eleitorais?
O primeiro impulso de qualquer um é se jogar com toda a energia nas redes, e fazer suas arrobas protagonistas das campanhas. Mas isto pode ser uma armadilha, um caminho perigoso, um terreno enganoso ou, em uma palavra, uma ilusão. Por certo o TRE não conta likes, conta votos. O sucesso nas redes pode não aparecer nas urnas.
Se por um lado as redes sociais são, sim, um terreno imprescindível, não pode ser o único espaço de campanha. É que as redes são comandadas por algoritmos que formam bolhas de relacionamentos e interesses temáticos às quais estamos todos aprisionados, de alguma forma. E furar as bolhas não é tarefa simples, e é justamente o que uma campanha eleitoral precisa fazer: falar além de sua bolha. Contando com o tempo da chamada pré-campanha, é possível que todos da bolha dos candidatos já saibam que eles concorrem e o que propõem.
Se atentarmos às palavras, veremos que nas redes falamos com “amigos”, “fãs”, “seguidores” e outros sinônimos que definem pessoas com quem já nos relacionamos. Ou seja: muito pouco para quem é candidato e precisa angariar novas simpatias, ampliar seus relacionamentos e obter votos.
O calendário eleitoral apertado dificulta muito a vida de quem precisa driblar os algoritmos para furar sua bolha, para ir além. Por isto a estratégia de uso das redes não deve se limitar a publicar bom conteúdo, mas de estimular as arrobas amigas a compartilhar o conteúdo produzido pela campanha. Isto para, usando o jargão, aumentar a relevância dos conteúdos. É o básico.
O que Zuckenberg [fundador do Facebook e dono do WhatsApp] e seus amigos querem mesmo é dinheiro. E por isto o “impulsionamento” de postagens resta como alternativa para ampliar seus limites, sabendo-se que quanto mais se paga, mais a rede vai lhe cobrar para aparecer. O que pode ser um problema menor se houver fôlego financeiro para atravessar a campanha, sabendo que logo mais vai sumir das timelines.
Mas certamente a coisa mais parecida com o “corpo a corpo” é o uso do WhatsApp. Ele carrega a credibilidade pessoal, tem esta natureza de conversa direta. Talvez o caminho para furar bolhas seja atuar em grupos de “zap” já existentes (com pertinência e gentileza) e criar a própria estrutura de grupos e listas, de preferência a partir de segmentação de cadastros e composição de mensagens também segmentadas.
Mas use o WhatsApp dentro regras legais da própria ferramenta. Não caia na tentação dos serviços de disparo em massa que são ilegais. A menos que você não se constranja o mau exemplo que um certo presidente nos legou.