São duas respostas possíveis para a pergunta do título.
A primeira: com as novas mídias, todo mundo é mais cidadão. O melhor exemplo em Santa Catarina: cobertura das chuvas em Blumenau em 2008. Todas as informações e alertas foram transmitidas primeiro nas mídias sociais (Twitter e blog) e não só por jornalistas. Houve uma mobilização que não é exagero dizer que só ocorreu por causa do Twitter e dos blogs. A “grande mídia” chegou depois. E ficou em seu próprio “campo”, como o clicRBS que lançou um site especial.
Em 24 de novembro de 2004, escrevi sobre isso no Coluna Extra um post com o título Informação e população mobilizada pela internet, contando justamente como a tragédia das chuvas em Blumenau havia sido noticiada primeiro no Twitter.
Não é a primeira vez que Santa Catarina enfrenta uma calamidade provocada pela chuva, mas é certamente a primeira vez que uma tragédia deste tipo, nestas proporções, ocorre em “tempos de internet”.
Isso fez ou vai fazer parar de chover? Não, mas está ajudando (e muito) a enfrentar a situação por dois motivos principais.
Primeiro, porque aumentaram as opções para a população suprir sua necessidade por informação. Em outros tempos, dados oficiais da Defesa Civil, só pelo rádio ou pela TV. Agora, é só acessar o site e conferir os boletins mais recentes. Também fica mais fácil acompanhar o noticiário, sem esperar pelo plantão na TV nem pelo jornal do dia seguinte.
E segundo, como era de esperar, muitos internautas se mobilizaram para prestar serviço, trocar informações, expressar opiniões, publicar vídeos e fotos sobre a tragédia. Em Blumenau, cidade mais atingida pelas enchentes, onde rádios e TVs tiveram cortes de energia e ficaram fora do ar, um grupo de blogueiros se reuniu num blog coletivo para publicar notícias sobre os estragos na cidade. Os blogueiros e outros moradores de Blumenau também passaram a postar sobre a situação no Twitter.
Naquele ano nem “veículos tradicionais” nem órgãos estaduais utilizavam o Twitter, por exemplo, para divulgar informações. Nas chuvas no início de 2011, por exemplo, a situação foi diferente. Sites de notícias já estavam usando o Twitter. E quem não estava, passou a usar, como o exemplo da rádio CBN/Diário, que estreou no Twitter na cobertura das chuvas na Grande Florianópolis. Órgãos como a Defesa Civil e as polícias rodoviárias Estadual e Federal entraram no Twitter criando um atalho importante para mídia e população com boletins dinâmicos e em tempo real sobre a situação no estado.
O “cenário” diferente não eliminou o papel do cidadão como gerador de informação. Houve uma troca em prol da amplificação de uma informação relevante, de utilidade pública:
Cidadão manda para mídia.
Mídia divulga informação do cidadão.
Cidadão espalha informação da mídia.
Esta é a primeira resposta possível. A segunda, na minha opinião, é que com as novas mídias, todo jornalista é mais jornalista. O que é a internet na vida de um jornalista? Não é uma ameaça. É uma oportunidade. Um copo meio cheio e não um copo meio vazio, como rezam as cartilhas de empreendedorismo.
Com as novas mídias, todo jornalista tem a possibilidade de “empreender”, ser dono do próprio negócio, do próprio veículo, o que favorece também o fortalecimento do mercado – abre novas frentes de trabalho – e também do jornalismo independente. Meios para isso, não faltam – com um custo mínimo de produção.
Um blog.
Um blog coletivo.
Um microblog.
Uma #hashtag.
Uma tweetentrevista.
Um site hiperlocal.
Um vídeo-blog.
Um programa ao vivo em vídeo.
Um podcast.
Uma newsletter.
Um álbum de fotos.
Um slideshow.
Um informativo em PDF ou JPEG.
E até uma revista online.
Somado a isso, as novas mídias também ajudam a corrigir uma das falhas na formação dos jornalistas: a criação e gestão de negócios. Com um blog, por exemplo, o jornalista pode começar a lidar com aspectos comuns ao dia a dia de uma empresa:
De início, quando decide por um blog temático, o jornalista opta por focar em um nicho de mercado. Na seqüência, o blog leva seu dono:
– a ter uma rotina de produção de conteúdo;
– a definir uma forma de relacionamento com leitores/clientes (nos comentários, no envio de posts por e-mail);
– a aprender novas práticas a partir da observação de outros blogs (benchmarking);
– a inovar na forma e no conteúdo (seja com abordagens criativas, seja com a adição de ferramentas diferenciadas);
– a estabelecer estratégias de divulgação (envio de convites e participação em listas de discussão e sites de relacionamento); e
– a identificar meios de captação de recursos (obviamente dentro de limites éticos e lícitos).
É desta forma que eu vejo o jornalista diante das novas mídias: mais independente editorial e profissionalmente. E certamente, com tantas ferramentas e meios disponíveis, o horizonte não é pequeno. Muito pelo contrário.
Artigo publicado originalmente no blog Coluna Extra, em 11 de maio de 2011