quinta-feira, abril 18, 2024
HomeArtigosPós-pandemia: O que pode mudar no jornalismo digital

Pós-pandemia: O que pode mudar no jornalismo digital

Inevitável enfrentar um momento tão extraordinário quanto este da pandemia do coronavírus sem pensar em como será a vida depois que tudo isso passar (até que haja uma vacina para a Covid-19). Tempo é o que não falta para refletir sobre aquilo que nos cerca no dia a dia em família e também no universo profissional em que transitamos – no meu caso, o do jornalismo digital e o do marketing digital para empresas.

É sobre isso o que escrevo a seguir: O que pode mudar no jornalismo digital? Sobre marketing digital pós- pandemia, meus apontamentos estão publicados no blog da agência Infomídia, aqui de Florianópolis, no post Presença Digital: Como (re)aproximar empresa e clientes.

Jornalismo digital na pós-pandemia

Anseio por informação e o Loop do Hábito de consumo de notícias

Desde que conheci o conceito do “Loop do Hábito” venho falando do assunto nas palestras e cursos que ministro e já apliquei em alguns dos meus trabalhos. E já tratei do assunto aqui no Primeiro Digital (leia aqui).

A ideia é simples: aplicar o Loop ao consumo de notícias para entender o lado do público-consumidor. Qual a deixa para buscar uma notícia? Qual a rotina ele segue? E qual a recompensa ele espera?

 

Tudo isso é motivado pelo anseio por informação que nunca deixou de existir por parte do público, mas preferiu seguir outras rotinas que não os meios tradicionais para acessar a notícia que desejava. Foi onde muitos veículos perderam espaço. O jornal impresso ficou no vácuo e os sites foram trocados pelas redes sociais (Facebook primeiro e WhatsApp, depois).

O que aconteceu na pandemia e que fica de lição para o futuro: o anseio por informação ficou ainda maior. A deixa era clara: que porra é essa de coronavírus? A recompensa idem: preciso saber como me cuidar (quem não quis, lamento).

E sobre a rotina é temos a melhor notícia: portais e sites de notícias bateram recordes de acessos (UOL, Folha…) prestando serviço e combatendo as notícias falsas sobre a doença – com papel destacado das TVs e das rádios.

Fica a lição e o desafio: o público recolocou os veículos de comunicação na rotina de consumo de notícia. É preciso entender os motivos (os gatilhos) e descobrir como manter esse hábito em alta e não somente em ondas, conforme a conjuntura. E isso inclui cuidar da pauta e investir no que interessa e não em caçar-clique com bobagens e memes que já são consumidos nas redes sociais.

Relevância do jornalismo hiperlocal

O que escrevo a partir daqui tem relação direta com os reflexos do maior anseio por informação e o Loop do Hábito de consumo de notícias com a rotina readequada. E é onde entra o jornalismo hiperlocal.

Grandes portais fazem um trabalho excepcional na cobertura da pandemia em escala global, mas são os canais que estão mais próximos das comunidades que levam as boas e más notícias que impactam no dia a dia das pessoas. É o caso do jornal O Município, de Brusque (SC), como contou ao Primeiro Digital o diretor Andrei Paloschi.

No meu caso, acessei o UOL muitas vezes para me informar sobre o que o Governo Federal (não) estava fazendo e quais os rumos da Covid-19 no mundo. Mas, na internet, a informação mais importante estava no NSC Total (especialmente nas colunas dos jornalistas Dagmara Spautz e Ânderson Silva) e no ND+.

Foram essas informações que ajudaram a entender a situação na região onde moro (Grande Florianópolis) e assim definir uma rotina de cuidados e precaução, como no caso de uma ida ao supermercado, por exemplo.

Sou desde sempre um defensor do jornalismo hiperlocal e a pandemia reforçou o valor do conteúdo sobre cidades, bairros e ruas. É uma forma de demonstrar empatia. Cria-se um vínculo pela proximidade da pauta e isso contribui para que o portal ganhe em credibilidade.

Penso sempre no que disse um amigo uma vez: prefere ser reserva e nem ir para o banco no time do São Paulo ou ser camisa 10 do Avaí? Ou seja, não perda tempo querendo ser o UOL. Seja o melhor portal de notícias de Florianópolis.

E isso vale para a pauta, para as manchetes em destaque, para a escolha de colunistas, para os destaques nas redes sociais…

Rever gestão de comentários

Outro ponto que deveria ser analisado pelos portais de notícias é a gestão da área de comentários. Numa situação como a da pandemia, deixar a área aberta com plugin do Facebook ou mesmo para assinantes se mostrou um erro, um risco, um contrassenso diante de uma cobertura focada na correção e no combate à fake news.

Como disse outro dia no Twitter, apostar em bom senso no Brasil de hoje é perder dinheiro. Por isso, não dá para esperar que os comentaristas da internet (humanos e robôs) contribuam positivamente como complemento para o conteúdo. É uma dor de cabeça que pode ser evitada para manter a qualidade do conteúdo e cuidar para que o portal não sirva de canal para propagar notícias falsas.

Isso significa eliminar a participação do público? Não, mas sim adotar uma outra forma de interação já que a pré-moderação de comentários é uma tarefa inviável.

Um modo de qualificar a participação do público é voltar a priorizar as mensagens enviadas por e-mail. É uma medida que alguns veículos já adotaram justamente para não tornar a área de comentários uma lixeira.

Rever modelo de acesso ao conteúdo

Por fim, um ponto crucial para reflexão: o fechamento do conteúdo para assinantes. Foi destaque e motivo de aplausos a decisão de muitos portais (do Brasil e do mundo, como registrado no Primeiro Digital) de abrirem o conteúdo sobre o coronavírus para não-assinantes. Caiu o paywall e a medida certamente ajudou nos recordes de acesso, mas além de números, o que mais pode significar?

Basicamente que 2 + 2 nem sempre é quatro. Ou seja, não significa que as pessoas não-assinantes que acessaram o conteúdo free vão virar assinantes quando a pandemia passar.

O que temos aqui é um indicativo de que o modelo de paywall precisa de aberturas específicas para atrair um novo público. O modelo (até mais) poroso, como parece nos ensinar a cobertura da pandemia, pode servir para o crescimento da audiência (e os ganhos com publicidade e mídia programática) e também conquistar – com paciência – novos assinantes.

O trabalho é eleger o que estará aberto e qual potencial de atração terá esse conteúdo. Abrir o que já está na internet é pouco (as bobagens e memes que falei acima).

O importante é destacar o que tenha qualidade e possa trazer para o portal um leitor igualmente qualificado e que eventualmente venha demonstrar interesse por pagar por conteúdos especiais e exclusivos que estejam fechados aos não-assinantes.

O momento é, portanto, de alimentar a audiência conquistada na pandemia e não espantá-la. Interessado?

Alexandre Gonçalveshttp://www.primeirodigital.com.br/alexandregoncalves
Jornalista, especializado em produção e gestão de conteúdo digital (portais, sites, blogs, e-books, redes sociais e e-mails) e na criação e coordenação de produtos digitais, atuando no Jornalismo Digital e no Marketing de Conteúdo.
RELATED ARTICLES

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

- Advertisment -
Google search engine

Most Popular

Recent Comments

Jorge Torres on As capas que “falam”
Vera Lucia Pires Goulart on O suicídio nas redes sociais
Bruno Allemand on O suicídio nas redes sociais
Fábio Célio Ramos on O suicídio nas redes sociais
vivi bevilacqua on O suicídio nas redes sociais
Affonso Estrella on O suicídio nas redes sociais
Luís Meneghim on O suicídio nas redes sociais