sexta-feira, abril 19, 2024
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“O Globo errou“ e o tamanho da responsabilidade com o que é compartilhado nas redes sociais

A ANJ (Associação Nacional de Jornais) tem destacado em seus eventos e campanhas que o conteúdo dos sites de jornais são as principais fontes dos links compartilhados pelos usuários nas redes sociais, em especial no Facebook. Isso porque, na visão da entidade, os jornais têm credibilidade e por isso os leitores espalham entre seus amigos, curtidores e seguidores os links de conteúdo produzido por uma fonte confiável. Confiável, mas não infalível, como vimos neste domingo em O Globo.

O jornal carioca, que completou 90 anos em 2015, deu manchete no dia 11 de outubro para o “furo” do colunista recém-contratado Lauro Jardim (ex-Veja) que dizia que o filho do ex-presidente Lula havia sido citado por um dos delatores da Lava-Jato. Ontem (8), na capa, O Globo publicou uma nota – menor que a manchete – dizendo que errou. Veja a íntegra:

Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, não foi citado na delação premiada de Fernando Baiano,  o lobista preso na Lava-Jato. A coluna errou ao publicar essa informação no dia 11 de outubro. No texto, afirmou-se que constava da delação de Baiano um relato em que ele dizia ter gastado R$ 2 milhões para pagar despesas pessoais de Lulinha. Baiano não mencionou Lulinha e, pelo nome, não apontou qualquer familiar de Lula como beneficiário de dinheiro desviado da Petrobras. Ele citou uma “nora de Lula”.  Segundo o depoimento, José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente, o procurou pedindo recursos para quitar despesas com um apartamento de uma nora de Lula – o ex-presidente tem quatro noras. Baiano disse ter dado R$ 2 milhões a Bumlai. A coluna pede desculpas a Fábio Luis, a Lula e aos seus familiares pelo erro. (Lauro Jardim em O Globo)

Neste cenário crítico e confuso que vivemos nas redes sociais, temos uma encrenca e tanto para ser administrada quando um erro ocorre.

Primeiro porque teremos, de um lado, uma desconfiança no ar para colocar em xeque as intenções do veículo: foi erro mesmo? A correção é uma correção mesmo ou um desmentido?

Segundo, entre os leitores em geral, levanta-se dúvida sobre a qualidade do produto, da forma como são apuradas e publicadas as informações – a credibilidade está em risco.

E terceiro, depois do erro corrigido pelo veículo, o que farão os leitores que compartilharam – de certo, com estardalhaço – aquele conteúdo que trazia o erro de informação? Vão apagar o compartilhamento? Ou vão compartilhar o link com a correção e as desculpas?

Dá para esperar este comportamento correto e honesto dos leitores “armados” com seus perfis e páginas nas redes sociais? Duvido muito. E o veículo também não vai para as redes pedir que os leitores compartilhem o link com a correção. Deveria, mas não vai.

Melhor mesmo seria o jornalismo se dar conta que a responsabilidade com aquilo que se publica/veicula/transmite ficou muito maior com o público invariavelmente “pilhado” de frente para seu computador, tablet ou smartphone. Vejo que muitas vezes falta noção aos jornalistas do alcance que o que eles produzem para seus veículos consegue atingir. E também do poder do público que está interessado em informação, mas também em participar do processo curtindo, compartilhando e comentando.

“O Globo errou”, outros erram e outros errarão. Mas em tempos de redes sociais, o jornalismo só perde para ele mesmo. Deixar de fazer bem feito o que é sua prioridade não tem desculpa. E depois não adianta ir para as redes sociais se lamentar, “xingar muito” e reclamar do descrédito e da desvalorização da profissão.

Alexandre Gonçalveshttp://www.primeirodigital.com.br/alexandregoncalves
Jornalista, especializado em produção e gestão de conteúdo digital (portais, sites, blogs, e-books, redes sociais e e-mails) e na criação e coordenação de produtos digitais, atuando no Jornalismo Digital e no Marketing de Conteúdo.
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