Em 2012, após assistir ao show de Sir Paul McCartney no estádio da Ressacada, em Florianópolis, escrevi no meu blog da época, o Coluna Extra, um post com o título “Um mestre na arte de respeitar e encantar o público”. Em 30 de março de 2019, em Curitiba, depois de assistir ao Beatle mais uma vez, além de confirmar que ele continua o mesmo aos 76 anos, no respeito e no encantamento, comprovei também que Paul dá aula sobre gestão de conteúdo na hora de escolher e ordenar as músicas do repertório para três horas de show. E faz disso o segredo para estabelecer a forma como interage com a plateia, ora com conteúdos campeões, ora com novos conteúdos.
Legado de ouro revisitado
A lição número 1 que Paul dá sobre gestão de conteúdo é justamente o respeito e a compreensão do quanto o legado construído ao longo do tempo é importante e tem valor. E funciona para manter a relação com quem já é fiel, mas pode servir ainda de alavanca tanto para atrair novos fãs quanto para apresentar novos conteúdos (músicas, nesse caso, mas pode ser um produto ou serviço).
Por isso, revisitar o legado de conteúdo não significa oferecer mais do mesmo nem ser refém do passado. É enxergar valor no que já foi feito e gerenciar quando poderá reapresentá-lo ou explorá-lo de outra forma, em outra circunstância. Ou seja, não há motivos para ignorar o que já foi construído (e indexado) mesmo quando se lança um novo disco ou, falando diretamente de marketing digital, se troca de direção e até de plataforma.
Lição: O que você sabe sobre o conteúdo que já possui? Qual o mais acessado e o melhor posicionado nas buscas? E quais trouxeram mais resultados conforme o objetivo definido para o conteúdo produzido?
Jornada emocional
Nos shows recentes de Paul, guiados pela troca de instrumento (do baixo para a guitarra, para o violão, para o ukulele, para o bandolim, para os pianos, de volta para o baixo, a guitarra, o piano…), a primeira parte é sempre a que gera mais expectativas. Costuma ser onde surgem as surpresas, aquelas do legado que ele inclui depois de um bom tempo sem tocá-las. As outras partes do show seguem um padrão com os grandes clássicos das fases Beatles, Wings e solo intercaladas com canções de discos mais recentes.
Funciona como uma jornada emocional que surpreende, mexe com lembranças e provoca diferentes reações – e é essa a segunda lição do Beatle galã sobre gestão de conteúdo: monte uma sequência de conteúdo que estimule o público a compartilhar o que está sentindo por palavras (gritos, aplausos…) ou por cliques em botões. Isso significa ter variedade de temas, características e propósitos.
Por isso, no show de Paul, é impossível ficar indiferente quando depois de “Something”, a homenagem ao beatle George, deixamos qualquer traço de tristeza da partida pela alegria infantil de gritar a plenos pulmões o refrão de “Ob-la-di, Ob-la-da”. No pique, é a abertura que aquece a plateia para a grande apoteose.
E é quando faz todo sentido que depois do espetáculo que é “Live and let die”, em que Paul impacta o público com a música e um show visual impecável, seja o momento da plateia dar seu show no coro de “Hey, Jude”, a última do setlist antes do bis. Ou seja, traduzindo, o “na na nanana” quer dizer “viemos juntos até aqui nesta jornada e também fazemos parte do show”.
Lição: Que emoções os conteúdos que possui provocam no público? Como equilibra o tipo de reação que deseja provocar? Em que momentos, o conteúdo chama a participação do público?
Confira o setlist do show de Paul McCartney em Curitiba.